III - Domingo da Quaresma
I leitura: Ex 20,1-17 - Sl 18
II leitura: I Cor 1,22-25 - Evangelho: Jo 2, 13-25
A Lei, sinal da Aliança
A publicação da Lei é um momento fundamental na história da salvação caracterizado pela intervenção explícita de Deus e que exprime a parte de Israel na aliança. O que está no centro, isto é, o que poderíamos dizer que é o “Código da aliança” é sua premissa: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te fiz sair do Egito, de uma casa de escravidão; não terás outros deuses diante de mim...”. Deus revelou-se libertador do povo que ele escolheu livremente como aliado e amigo, indicando-lhe o caminho da liberdade. É o que diz a primeira leitura do livro do Êxodo.
Um aspecto que envolve todo o homem
É verdade que o decálogo (os Dez Mandamentos) corresponde as leis “elementares” da sociedade humana. Sem os mandamentos não seria possível uma convivência civil. Imaginamos viver em nosso dia-a-dia uma vida sem Deus, sem o amor ao próximo, seu o respeito...? É verdade que todo o conteúdo da revelação, expressa nos Dez Mandamentos entregues a Moisés como intermediário. É uma forma de Deus revelar seus desígnios. Se quisermos, como devem proceder aqueles que crêem em Deus como sendo seu Senhor. Quem fez a Lei foi Deus e permanece como único legislador da história da salvação. A observância dos Mandamentos por parte do homem assegura a continuidade da parte do povo, de uma revelação a qual Deus não pode a não deixar de corresponder. Assim a lei, mais que uma imposição, passa a ser vista como um dom: palavra de Deus que espera uma resposta. Para quem a escuta ela se torna uma fonte de bênçãos, pois acredita nas promessas de Deus que as cumpre fielmente. O preço do resgate da escravidão e da alienação do egoísmo tem de Deus essa resposta. E através do crescimento pessoal e comunitário, somos chamados a interioridade descobrindo Deus na história e crescer na comunhão com Ele na Palavra e na Eucaristia.
Jesus confirma a lei entregue a Moisés. Porém, supera apelando para interioridade a fim de libertá-la de todo formalismo e reconduzi-la às dimensões mais convincentes. Que a pessoa que crê cresça no seu dialogo de amor para com Deus. O único mandamento de Cristo resume toda a lei. É dele o modelo mais convincente; nele não há duas propostas entre a palavra-vontade de Deus e a resposta-obediência do homem. Para isto tende todo cristão, animado pelo Espírito de Cristo: nele não é mais a lei que manda, mas a liberdade do Filho em fazer livremente em obediência a vontade do Pai. Ele sabe o que quer dele o Pai e coloca sua vida a serviço do Reino. Libertado dos preceitos se faz servo do amor: dom supremo de si em plena liberdade.
Deus é fiel aos pactos: o homem, nem sempre
O pacto com Deus só pode ser rompido pelo homem. Deus é “o fiel”. Comungando na eucaristia, estamos nós hoje selando nossa aliança pessoal com Deus, no corpo e sangue, no sacrifício de Jesus Cristo. Essa aliança com Deus não pode ser um momento vazio. Deveria ser o compromisso de toda nossa vida, para não se derramar em vão o sangue do Filho de Deus. Uma vez engajados entre os filhos da luz não podemos mais ter perturbações nem fingimentos, falsas modéstias, preocupações temerosas; saibamos proclamar o que São Paulo nos apresenta na segunda leitura: “Pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os pagãos”. Assim, não podemos temer as fáceis ironias de quem escarnece de nós ou do ódio do mundo pela loucura da Cruz, porque como Cristo nos apresenta no evangelho deste final de semana, “o zelo da vossa casa me devora”. Nossa fé exige a coragem de ser vivida integralmente na nossa vida.
O farisaísmo não morreu
Freqüentemente, nossa aliança com Deus é reduzida a uma apressada visita dominical a uma igreja, ou a um passeio turístico a algum santuário, ou ainda a um momento de breves palavras em nossas orações diárias. O tédio da monotonia cotidiana abafa muitas vezes os gestos mais entusiastas. Muitos cristãos são capazes de atos heróicos uma vez por ano através de romarias, novenas, promessas, etc. Mas depois se deixam enrolar nas malhas do esquecimento, da preguiça espiritual, da indiferença religiosa e do comodismo. Acabamos ficando presos a uma ignorância espiritual. Sem muita convicção por não termos nestes momentos crescidos na fé e na intimidade com Deus. Ser cristão, seguir Jesus Cristo, não consiste em praticas a serem cumpridas em determinados momentos. Antes de tudo é, como Ele, sermos fiéis e obedientes ao Pai. Ir a Igreja, então, não se limita a um dado estatístico ou um alívio de consciência, mas em acreditar que a loucura da Cruz manifestado pelo amor de Deus em Cristo Jesus vence toda injustiça e maldade.
A lei de Cristo é algo mais do que uma rígida lei pela qual se possa dizer: “Aqui basta”. Jesus transforma a lei em um compromisso de amor e o amor nunca diz “basta”. Assim, a lei se torna mais comprometedora. Isso é evidente na perspectiva em que Jesus põe juízo também em Mt 25,31-46. Fica claro, que toda falta do homem é uma falta de amor. E nada é mais grave que a falta de amor. Comete-se uma falta diante de uma pessoa e diante de Deus. Mas podemos sempre recomeçar. Contanto que estejamos em caminho. Que tenhamos fome e sede de Deus, de sua justiça que é o amor.
Um boa semana a todos em preparação para Santa Páscoa.