
V DOMINGO DA PÁSCOA
CRESCIMENTO E TENSÕES NA IGREJA PRIMITIVA
A
situação das primeiras comunidades cristãs é exemplar para se
compreender as tensões da igreja em nosso tempo; esta é a capacidade
atualizadora da palavra de Deus. A comunidade de Jerusalém, a primeira a
ser formada de modo estável, com sua organização em torno dos
apóstolos, tende a se tornar prevalentemente a guardiã das tradições, a
fechar-se em si mesma e a olhar com suspeitas para quem que modifique as
fórmulas doutrinais e a praxe habitual. Nesse caso, o peso da história
obscurece o mandato missionário do Senhor ressuscitado e sua abertura a
todas as nações pagãs, o dinamismo do diálogo com todas as culturas,
particularmente com a helenista, difundindo na bacia mediterrânea, a
capacidade de rejuvenescimento que provém da perene novidade do
Ressuscitado.
A
esses aspectos eram mais sensíveis às comunidades nascidas em ambientes
pagãs que, como já hebreus de diáspora, eram obrigados a dar razão de
sua fé a si e outros. Em lugar de esperar que venham os pagãos, são
eles, instintiva e deliberadamente, missionários.
Uma vinha enxertada num único tronco
Paulo
se apresenta como o pregador mais autorizado em todas essas
circunstâncias. Mas antes de formular doutrinalmente conceitos
amadurecidos em muitos anos de atividade missionária, ele sente a
necessidade de se fazer aceitar pela Igreja-mãe de Jerusalém e ver
reconhecida sua investidura carismática para o apostolado, afim de que,
mesmo visivelmente, seja manifestada a comunhão com os irmãos que
viveram com o Senhor e são as testemunhas privilegiadas da sua
ressurreição.
Mas
ao decorrer da história mostra que, com a morte desses discípulos que
viram o Senhor na carne, e com a destruição de Jerusalém e a consequente
dispersão da comunidade cristã, o centro dinâmico das comunidades é o
Senhor ressuscitado. E as comunidades cristãs de toda a face da terra
constituem seu corpo que cresce e se edifica na caridade. Mas ele quis
um centro visível de referência e de unidade, tão importante e tão
relativo quanto a Igreja de Jerusalém: é a Igreja de Roma.
Diversas Igrejas, mas uma única Igreja
Ela
possui seus modelos de organização e pensamento, característicos da
cultura em que se inseriu e que também transformou. Mas não os impõe às
igrejas locais que, encarnadas num país e numa cultura, devem encontrar
sua fisionomia própria para anuncia a única mensagem em todas as
línguas, culturas e nações. O trecho do evangelho deste final de semana
põe em evidencia a tensão de crescimento da Igreja; ela é a nova vinha
que substitui a antiga: o povo de Israel, que frequentemente no Antigo
Testamento é indicado por comparação. A nova vinha nasce de um único
tronco, Jesus Cristo, mas está destinada a cobrir toda a terra com seus
frutos. Seu crescimento não é fácil; ela é maltratada por repentinas
fases de seca, de geada e dolorosas podas, mas não podem faltar os
frutos nos sarmentos inseridos na videira fundamental.
Unidade no pluralismo
Todo
crescimento é sempre acompanhado de tensões, de desequilíbrios. Tanto
no campo fisiológico, como social, no político, no religioso. As tensões
que a Igreja atravessa hoje podem revelar-se fecundas e construtivas,
contanto que sejam vistas no amor, sem ressentimentos, sem novos
integrismos. As tensões atuais se tornam legítimas quando se transformam
em sectarismos. O mesmo ardor que os cristãos põem na luta contra todas
as discriminações raciais, étnicas, ideológicas, nacionais, deveria ser
empregado para evitá-la no âmbito do povo de Deus. Infelizmente sabemos
que isso não se dá. A intolerância e a excomunhão recíproca se
intensificam, muito frequentemente, como se intensificam as rejeições,
práticas ou sistemáticas, de comunhão com outros irmãos católicos que
não partilham a mesma opção política ou que não pertencem à mesma
categoria social ou cultural. Esta contradição entre o comportamento
interior e o exterior dos católicos deve ser eliminada, sob pena de
falsidade, de contratestemunho e de ineficácia. Portanto, falamos muito
de pluralismo, mas ainda não compreendemos que o pluralismo é mais
difícil que a unidade monolítica. Este exige maior maturidade, maior
capacidade de diálogo, mais respeito e amor. Por isso mesmo é mais
fecundo.
Uma boa semana a todos e saibamos viver na diversidade.