
XI Domingo do Tempo Comum
A Semente que Cresce
Os dois trechos de Ezequiel e de Marcos estão estreitamente ligados entre si pelas imagens que empregam, isto é, do crescimento, da planta e da semente. Ambos os textos apresentam o texto doutrinal: crescimento milagroso do reino de Deus e sua extensão sem limites.
O crescimento oculto e espontâneo
Para compreender a parábola da semente que cresce ocultamente, devemos mostrar-nos ao tempo de nosso Senhor. Então, a técnica moderna de incrementar o crescimento e a produção através dos meios químicos e mecânicos era totalmente desconhecida. Quase tudo era deixado à fertilidade do solo, que espontaneamente produzia a plantinha e o fruto. É interessante notar que, dos quatro versículos que compõem a parábola, três se destinam em descrever o processo misterioso do crescimento: a semente cresce e se desenvolve sem que o homem intervenha de maneira alguma. Durma ele ou vigie, o resultado é o mesmo.
Parece ser este o ponto central em que nos devemos colocar para compreender não só esta parábola, mas também a do grão de mostarda, que lhe é parecida. Jesus quer dar uma resposta às ideias e expectativas messiânicas dos judeus de seu tempo. Havia os fariseus, que pensavam poder apressar o advento do Reino com a penitência, os jejus, a observância da Lei e das tradições; havia os zelotas, que procuravam implantar o reino, recorrendo à violência e à resistência armada contra os conquistadores romanos; enfim, havia os apocalípticos, convencidos de poder estabelecer com precisão, por seus cálculos cabalíticos, a hora e o lugar da gloriosa manifestação do Messias.
Jesus corrige essas expectativas e afirma solenemente que o reino é obra de Deus e não dos homens. De fato, ambas as parábolas põem claramente em evidência a inadequação e a absoluta insignificância dos instrumentos humanos, que Deus usa para realizar seu reino. É a mesma ótica de são Paulo quando afirma categoricamente: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem faz crescer” (I Cor3,6). Em outros termos, a primeira leitura se coloca nesta perspectiva da livre e plena iniciativa de Deus: “Saberão todas as arvores da floresta que eu sou o Senhor...”
A iniciativa é de Deus
Se, do ponto de vista teológico, as duas leituras acentuam a livre e totalmente gratuita iniciativa de Deus no advento de seu reino, no plano prático, elas chamam a atenção do cristão para algumas atitudes fundamentais de sua maneira de agir. É inegável que, num passado recente, houve muitas tendências a interpretar estas parábolas de Jesus em tom um tanto triunfalista, ou pelo menos apologéticas no concerne à Igreja, identificável ao reino de Deus, e na qual se acentuavam os aspectos quantitativos e geográficos, mais do que os qualitativos e profundos. Além da mentalidade triunfalista, é aqui visado também certo eficientismo que se baseia na organização, nas obras, nas instituições e nos programas, mais do que na escuta da palavra de Deus, no confronto com o evangelho, na confiança em deus, na humildade e na oração... Tem-se em vista também certa imagem de Igreja em que prevalecem as estatísticas, os registros, as cerimônias.
Em lugar dessas concepções, a palavra de Deus sugere a imagem de uma igreja pobre, que não se anuncia a si mesma, que não busca si mesma, que se desapega de toda riqueza e se liberta de qualquer aliança ou compromisso com as potências da terra (dinheiro, política, poder, cultura...) porque sabe que o reino não depende destas coisas. Deus se serve de instrumentos bem diferentes.
A paciência dos colaboradores de Deus
Neste contexto de pobreza e disponibilidade, o evangelho sugere outra atitude: a paciência. Se a realização do Reino não depende simplesmente de mim, saberei ser paciente. Se o homem não se converte, não o acusarei de incompreensão e de pecado. Isto não quer dizer que o cristão se refugiará num descomprometido quietismo: ficar tranquilos e esperar; tudo depende de Deus! O cristão trabalha, mas com mentalidade nova, consciente de que Deus age nele; sem prender-se ao seu tempo, aos seus desejos. Está consciente de que é Deus quem chama, quando e como quer, de que serve de nós, mas não sabemos de que modo, em que ocasião e para quais pessoas. A verdadeira pobreza é esta: fazer tudo sem atribuir-nos o mérito de nada; trabalhar com todas as nossas forças sem pretender ver o resultado. É também uma lição de humildade.